Fazer
um remake de um clássico é sempre uma grande responsabilidade, pois nem sempre
dá certo como pudemos ver neste ano em filmes como, por exemplo, Poltergeist (veja aqui).
O filme original, de 1982, dirigido por Tobe
Hooper (de O Massacre da Serra
Elétrica) com produção de Steven
Spielberg (Tubarão) foi um grande
sucesso de público e crítica, enquanto o remake – sem Hopper e Spielberg – com
direção de Gil Kernan (A Casa Monstro) e produção de Sam Raimi (franquia Evil Dead) foi mais ou menos na
bilheteria e com críticas não muito boas.
Em
contrapartida, há remakes que conseguem igualar o original, como é o caso da
nova série da rede de televisão britânica BBC lançada neste ano, Poldark. A série de TV é baseada em uma
série de romances históricos chamados The
Poldark Novels (As Novelas Poldark,
em inglês), escritos pelo autor inglês Winston
Graham (1908-2003). Com um total de 12 volumes, os romances contam a
história da família Poldark, a partir de seu patriarca, Ross Poldark, até seus
descentes, em um período de 40 anos entre o final do século XVIII e início do
século XIX.
Os
romances foram Best-Sellers na Grã-Bretanha. No Brasil, até o momento, não
foram lançados, mas é possível encontrar edições de Poldark publicadas em Portugal em livrarias especializadas em
livros importados, sebos ou pela internet.
A
primeira adaptação de Poldark foi
feita também pela BBC, em 1975, com Robin
Ellis (Os Europeus) no
papel-título. Com 29 capítulos divididos em duas temporadas, esta produção é
considerada uma das adaptações de maior sucesso em todos os tempos da TV
britânica, tendo sido vendida em mais de 40 países, onde teve igual êxito (é
particularmente popular nos EUA). Como parte das comemorações dos 40 anos de
sucesso da série, a BBC decidiu fazer o seu remake.
O
ano é 1783. Ross Poldark (o ator irlandês Aidan
Turner, da saga O Hobbit) é um
capitão do exército inglês que lutou na guerra de independência dos EUA
(1775-1784). Após ser ferido em combate, teve baixa no exército e retornou para
a sua casa na região da Cornualha (Cornwall, em inglês), no sudoeste da
Inglaterra. Ao chegar lá, tem desagradáveis surpresas: primeiro, descobriu que
seu pai faleceu. Depois, descobriu que sua amada, Elizabeth (a atriz e modelo
islandesa Heida Reed de Um Dia) casou-se com seu primo, Francis
(o estadunidense Kyle Soller, de Anna Karenina).
Desolado
e tendo como o seu único apoio a sua prima Verity (a inglesa Ruby Bentall, de Robin Hood), Ross foi reconstruir sua vida. Seu único legado era
uma mina de cobre abandonada há muitos anos. Ross decidiu apostar suas fichas
na mina, o que não agradou ao ganancioso banqueiro George Warleggan (o inglês Jack Farthing de The Riot Club) que desejava ter o monopólio das minas de cobre da
região. Um dia, Ross ajudou a jovem moradora de rua Demelza (a inglesa Eleanor Tomlinson, de Jack, o Caçador de Gigantes) e a
empregou como ajudante de cozinha. Mais tarde, Ross e Demelza casaram-se e
tiveram uma filha. Além das dificuldades com a mina, Ross enfrentava as
artimanhas de Warleggan, a desconfiança de Francis e a fome e as doenças que
assolavam seus empregados.
Como
toda grande série da BBC que se preze, o trabalho de produção é simplesmente
impecável. A belíssima fotografia - principalmente na abertura de cada capítulo
e na cena de um naufrágio – de Cinders
Forshaw lembra as pinturas do pintor romântico inglês William Turner (1775-1851), no que é ajudada pelas lindas paisagens
da Cornualha, onde ocorreu a maior parte das filmagens.
A
direção firme tanto do ex-guitarrista da banda New Wave The Vapors, Edward
Bazalgette, quanto de William
McGregor (da série Desajustados),
faz com que o seriado não perca o pique, permanecendo sempre em alto nível.
Uma
excelente reprodução de época, refletida nos cenários e figurinos, é aliada ao
período histórico mostrado: transição do comércio mercantilista e produção
manufaturada para uma economia financeira e produção mecanizada, ou seja, o
início da Revolução Industrial.
A
série também mostra com precisão os problemas que surgiram nesse novo modo de
produzir e ganhar dinheiro: a exploração dos donos do novo capital (banqueiros)
sobre a pobre classe trabalhadora que, para os patrões, deve trabalhar sem parar
e reclamar e ainda ser grata por isso. Os trabalhadores, além dessa exploração,
devem enfrentar a fome e doenças como a difteria. Isso sem falar nos
preconceitos de classe, algo que, infelizmente, vem de longa data.
Do
mesmo modo, a série mostra que naquela época já existiam pessoas de
consciências, como o próprio Poldark e Verity, que têm compaixão pelos
trabalhadores explorados e procuram tratá-los com dignidade e respeito. Essa
consciência social é mostrada também no casamento do fidalgo Poldark com
Demelza, uma camponesa semi-analfabeta, algo simplesmente inadmissível para a
burguesia da época.
Aidan
Turner mostra porque é considerado um astro internacional em ascensão sua interpretação é sincera e honesta. Seu Poldark consegue ser rude e terno ao
mesmo, sempre guiado pelo seu senso de justiça social. Turner também mostra
excelente forma física e a cena em que nada nu no mar alimentou as fantasias da
mulherada do mundo todo.
A
bela Eleanor Tomlinson está ótima como Demelza, uma moradora de rua e camponesa
muito pobre, mas com uma forte personalidade que conquista Poldark e que,
incentivada pelo marido, tenta se inserir na alta sociedade local. Nos últimos
capítulos, é impossível não se comover com o que ela faz e com o que acontece com
ela (obviamente, não vou contar para não estragar a surpresa).
A
igualmente bela Heida Reed está no mesmo nível de Eleanor. A sua personagem,
Elizabeth, consegue transmitir ao mesmo tempo uma imagem de delicadeza e força,
principalmente no período de crise que sua família atravessa.
Kyle
Soller está muito bem com seu personagem, Francis, que é o oposto de Elizabeth:
fraco tanto física quanto emocionalmente, a ponto de não ser capaz de gerir a
fortuna que herdou e leva a família à ruína – além de ser facilmente
influenciado por Warleggan.
Warleggan
é o vilão que todos amam odiar. É ardiloso, falso, fingido e extremamente
ganancioso. Mérito de Jack Frathing.
Mesmo
não sendo tão bonita quanto Eleanor e Heida, Ruby Bentall faz com que a sua
personagem, Verity, seja adorável, a ponto de todos torcerem pela sua
felicidade, mesmo que isso contrarie o seu ciumento irmão, Francis.
A
nova versão de Poldark não só cumpriu
todas as expectativas que público e crítica tinham para com ela, como consegue
ser tão boa quanto a original. Todos que assistem ficam doidos para saber o que
vem em seguida e, quando o último capítulo da primeira temporada terminou,
ficou aquele gostinho de “quero mais”. Quanto a isso, podem ficar tranquilos,
pois as filmagens da segunda temporada começaram em setembro último e tem
previsão de estreia em março de 2016.
Estejam
certos que, quem assistiu a primeira temporada da saga do clã Poldark, não vai
querer, de maneira alguma, perder a próxima.
RESUMO DO FILME
Ross
Poldark é um capitão reformado do exército inglês que lutou na guerra de
independência dos EUA. Ao regressar para a sua casa na região da Cornualha, no
sudoeste da Inglaterra, descobre que seu pai morreu e sua noiva casou-se com
seu primo. Poldark começa a reconstruir a sua vida com muitas dificuldades
(capítulos 1 a 8).
COTAÇÃO
Excelente.
Veja aqui o trailer oficial de Poldark (original em inglês - HD):
Adorei esse filme! Eu gosto muito de filmes de época ou baseados em fatos reais. Neste me agradou muito o personagem vivido pelo Rory Kinnear. Acho-o um excelente ator, versátil que sempre sabe se reinventar e fazer diversos papéis. Eu, pessoalmente, adoro pesquisar e ver filmes europeus e documentarios. São sempre bem produzidos e dirigidos, nos atraindo sempre. Tem outro ritmo e são bem conduzidos além de ter uma linguagem própria. Eu adoro e indico.
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